Os independentistas da FLEC-FAC, de Cabinda, anunciaram hoje em comunicado, que têm pronta uma delegação politico-militar para estabelecer “os primeiros contactos com uma delegação reconhecida oficialmente pelo Presidente de Angola, para “pôr fim definitivo às hostilidades” naquele enclave.
A informação consta de um comunicado divulgado pelo Estado-Maior das Forças Armadas de Cabinda (FAC), da Frente de Libertação do Estado de Cabinda (FLEC), indicando que a delegação daquele movimento seria chefiada pelo tenente-general Afonso Nzau, Director-Geral do Serviço de Inteligência Externa da organização.
O pedido para encetar conversações foi lançado no final de Abril pela FLEC-FAC, mas o Governo angolano nunca lhe respondeu publicamente.
Ainda assim, a FLEC-FAC diz estar “receptiva” à presença, durante o encontro, de observadores indicados pela Comunidade de Sant’Egidio, União Africana, ONU, Comunidade Económica dos Estados da África Central (CEEAC) e da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
Os independentistas das FLEC-FAC propuseram publicamente, a 26 de Abril, ao novo chefe do Estado-Maior das Forças Armadas Angolanas (FAA) um “roteiro” para a paz naquele enclave, disponibilizando uma delegação para, nos próximos 30 dias, negociar com o Governo de Angola.
A posição surge num comunicado divulgado a propósito da nomeação, na mesma semana, do general António Egídio de Sousa Santos para o cargo de chefe do Estado-Maior General das FAA.
Para além de Afonso Nzau, a delegação é composta por Leon Mazunga (membro do Bureau Político), Janeta Matondo (membro do Bureau Político e representante da FLEC na Bélgica), José Ndele Ngoma (membro do Bureau Político e representante da FLEC-FAC na Suíça), João Júnior Sousa “Zing Zong” (General inspector-geral da Defesa Nacional) e José Luís Matete Dias (membro do Bureau Político).
O anterior comunicado, assinado pelo general Zing Zong Júnior Sousa, descrito no documento como inspector-geral da Defesa Nacional das FAC, surgiu então acompanhado de um vídeo, com a sua leitura, diante uma parada que junta dezenas de alegados guerrilheiros, armados, na floresta.
Esta organização luta há cerca de 50 anos pela independência de Cabinda, contestando sempre o que apelida de “invasão militar angolana após o acordo de Alvor”, assinado em 1975, e considerando que “as autoridades políticas portuguesas, sem qualquer consulta aos cabindas, os entregaram aos angolanos”.
A FLEC-FAC recorda que em 1 de Fevereiro de 1885 foi assinado o Tratado de Simulambuco, que tornou aquele enclave um “protectorado português”, o que está na base da luta pela independência do território.
Desde 2016, com o reactivar dos ataques em Cabinda, a organização já reivindicou ter estado na origem da morte de dezenas de militares angolanos, em emboscadas, informação sempre negada pelo Governo e pelas chefias militares de Angola.
Na mensagem de Abril, directamente dirigida ao general António Egídio de Sousa Santos, o braço armado da FLEC-FAC refere que, na “busca incessante por uma solução pacífica para pôr termo ao conflito em Cabinda”, propõe “um roteiro para pôr fim às hostilidades em curso”.
Desde logo, os independentistas colocam como condição a “retirada progressiva das forças militarizadas angolanas do território de Cabinda”, para “viabilizar o início de um diálogo com as partes”.
Exigem ainda às FAA o “escrupuloso respeito dos direitos humanos e da dignidade da população de Cabinda, bem como a viabilização, “com o consentimento expresso” do Presidente angolano, João Lourenço, do “estabelecimento de contactos nos próximos 30 dias com uma delegação da FLEC-FAC para pôr fim definitivo às hostilidades” naquele enclave.
Em 8 de Novembro, o Presidente angolano, João Lourenço, presidiu em Cabinda à primeira reunião descentralizada do Conselho de Ministros de Angola no actual mandato.
“Dar o sinal de que Cabinda é importante para nós. Vamos encarar Cabinda como um caso muito particular. Eu, pessoalmente, vou seguir de perto todos os projectos de Cabinda, no sentido de podermos, nos próximos anos, reverter o actual quadro que a província vive e que, lamentavelmente, não é dos melhores”, afirmou, na ocasião, João Lourenço.
Durante a reunião do Conselho de Ministros, o governador de Cabinda, Eugénio Laborinho, pediu ao Governo angolano a revisão ao Estatuto Especial daquela província, nomeadamente através de um regime fiscal diferenciado, para captar investimento.
“Propomos, senhor Presidente, que seja analisada a possibilidade de se atribuir a Cabinda um regime fiscal que conceda atractivos, benefícios e demais incentivos às empresas que pretendam cá investir, bem como aquelas que estão aqui sediadas”, disse o governador provincial.
Folha 8 com Lusa